“Teoria da Evolução – Princípios e Impacto” ou uma iminente mudança paradigmática em biologia evolutiva?

quinta-feira, março 02, 2006

O JC e-mail 2964, órgão da SBPC de 23 de Fevereiro de 2006, publicou o seguinte press release: V São Paulo Research Conference: “Teoria da Evolução - Princípios e Impacto”:

De 18 a 20 de maio, no Auditório da Faculdade de Medicina da USP

Serão revistos os aspectos históricos, filosóficos e biológicos do darwinismo e da teoria da evolução, suas extensões e variantes, e a contribuição que trouxe à teoria da evolução a biologia molecular.

Os aspectos históricos incluirão conceitos recentes sobre as polêmicas referentes ao fixismo e ao criacionismo.

Especialistas renovados instruirão sobre modelos computadorizados da evolução, sobre comparações com a geologia e a botânica. Um curso de introdução à teoria da evolução será associado à Conferência.

A promoção do evento é da Pró Reitoria de Pesquisas da USP.

O evento terá lugar na Av. Dr. Arnaldo, em São Paulo, SP.

Informações no site http://www.eventus.com.br/bioconferences
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Vai ser sem dúvida um grande evento com a presença de grandes nomes. Três coisas, todavia, chamam a atenção:

A primeira é que as insuficiências epistêmicas fundamentais do neodarwinismo não serão sequer debatidas. Isso indica duas coisas: conhecimento desatualizado da atual literatura científica pelos palestrantes (não creio que seja assim) ou uma tentativa de mostrar para o público a robustez e a influência de uma teoria do século XIX na biologia evolutiva do século XXI. Um contra-senso científico diante da atual crise paradigmática que vivemos em biologia evolutiva.

A segunda é que o evento parece mais ser de Relações Públicas para blindar Darwin de quaisquer críticas e continuar polarizando a questão ad nauseam como sendo ‘criacionismo vs. evolução’. A questão hoje não é se as especulações transformistas de Darwin contrariam relatos de criação de textos sagrados de tradições religiosas. A questão hoje é ciência boa vs. ciência ruim.

A terceira é que a Teoria do Design Inteligente sequer é mencionada nos ‘aspectos históricos’. Não se iludam não, eles vão correlacionar a TDI como sendo uma versão de ‘criacionismo’ num smoking barato. O que é inaceitável e execrável num evento promovido por uma universidade pública é que as posições que terão suas idéias combatidas sequer foram convidadas para expor e defender as suas teorias. A universidade é local para o debate de idéias e não o perpetuar da ‘síndrome do soldadinho de chumbo’ do discurso único. A TDI não foi, não é, e nunca será ‘criacionismo’. A Nomenklatura científica teima em fazer esta equiparação porque sabe que a TDI é a sua única rival científica e que tem muita coisa em jogo: a perda de status e poder científicos. Eles serão epistemicamente demonstrados nus.
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O texto abaixo é um projeto parcial de dissertação submetido numa importante universidade brasileira. O nome do mestrando e da universidade onde ele estuda ficam aqui velados para protegê-lo de possíveis investidas da Nomenklatura científica. Isso não será debatido naquele megaevento, mas fica aqui registrado para fins históricos de que alguém se antecipou abordar questões que a Academia não ousa sequer considerar: está na hora de dizer adeus a Darwin.
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Uma iminente mudança paradigmática em biologia evolutiva?

O neodarwinismo (teoria sintética) é o paradigma atualmente aceito pela maioria dos cientistas para explicar cientificamente o fenômeno da evolução das espécies. Há, porém, um grupo crescente de cientistas (a quem nomeio de evolucionistas agnósticos) que questionaram a validade científica do modelo neodarwinista. Os historiadores de ciência D. Collingridge e M. Earthy descreveram o neodarwinismo como sendo um paradigma que perdeu a sua capacidade de resolver problemas científicos importantes. [1]

Em 1980, Stephen Jay Gould foi mais criticamente contundente - a síntese neodarwinista foi considerada efetivamente morta apesar de sua persistência como ortodoxia nos livros-texto de Biologia. [2] Em junho de 2005, Massimo Pigliucci, professor no Departamento de Ecologia e Evolução na SUNY [State University of New York] escreveu numa resenha de um livro que o clamor de se revisar o neodarwinismo está se tornando tão alto que, espera-se, a maioria dos biólogos evolucionistas começará a prestar atenção. [3]

Por que a teoria sintética, apesar das discussões e debates sobre suas dificuldades teórico-empíricas tais como: (a) Questões de padrão (como os organismos são interrelacionados e como nós sabemos isso?); (b) Questões de processo (os mecanismos da evolução e os vários problemas em aberto naquela área), e (c) Questões sobre a questão central (a origem e a natureza da complexidade especificada de informação biológica) continua sendo o paradigma aceito pela maioria da comunidade científica? Quais foram/são as estratégias de divulgação (científica/popular), de convencimento e ensino utilizadas para manter o status quo científico para a teoria neodarwinista?

Estas discussões e debates sobre as dificuldades estariam realmente apontando para o surgimento de uma nova teoria da evolução conforme sugerido por Stephen Jay Gould? Estamos assistindo a uma mudança paradigmática em Biologia à la Kuhn? Se assim for, qual é o significado histórico para o atual ensino da Biologia e da História da Ciência Biológica? Está na hora de abandonarmos Darwin? Revisar ou descartar o neodarwinismo? Estamos assistindo a uma iminente mudança paradigmática em Biologia Evolutiva?

Bibliografia:

1. COLLINGRIGDE, D. and EARTHY, M., “Science Under Stress: Crisis in Neo-Darwinism”, in History and Philosophy of the Life Sciences 12:3-26, 1990.
2. GOULD, Steve J., “Is a New Theory of Evolution Emerging?”, in Paleobiology 6: 119-130, 1980.
3. PIGLIUCCI, Massimo, “Expanding Evolution”, in Nature 435, 565-566, 2 June 2005. A broader view of inheritance puts pressure on the neo-darwinian synthesis. Book reviewed: “Evolution in Four Dimensions: Genetic, Epigenetic, Behavioral, and Symbolic Variation in the History of Life” by Eva Jablonka and Marion J. Lamb. Bradford Books: 2005. 462 pp.