O 'bebê' de Lucy não é assim nenhuma Brastemp de elo de transição...

sexta-feira, setembro 22, 2006

Convenhamos, quem não fica maravilhado com a chegada de um bebê? Bem, emoções saudáveis à parte, vamos considerar com os pés no chão mais este achado fóssil que, segundo os cientistas, lança novas luzes em nosso entendimento sobre a evolução humana. Essa história de compreender mais sobre a evolução humana há quase 150 anos até parece febre intermitente – vai e volta. Às vezes, o paciente, oops o cientista delira...

Bem, isso parece ser o caso da Grande Mídia Internacional, especialmente a National Geographic, BBC News, da Associated Press (vide Fox News), da Grande Mídia Tupiniquim e da Nomenklatura científica com um gancho de histórias mirabolantes sobre a evolução humana e as 'concepções artísticas' de como viviam nossos supostos ancestrais, blah, blah, blah. No jornal da Band de 21/09/06 o Boechat falou em 'criança', mas a Fapesp também assim se referiu 'carinhosamente' ao fóssil encontrado. Vide abaixo a divulgação científica da Fapesp.

A revista Nature [1] noticiou a descoberta de mais um esqueleto parcial de Australopithecus afarensis. E o que foi achado de interessante para a paleoantropologia? Dentes, crânio, omoplatas, o ouvido interno, osso hióide e outras partes bem preservadas e que se encaixam na 'típica morfologia macaco-antropóide africano'. Porque "o esqueleto é da mesma espécie e tem apenas 3 anos, os cientistas batizaram este esqueleto de 'o bebê de Lucy". É muita criatividade... e uma falta crassa de lógica – o 'bebê' veio antes da mãe há 150 mil anos!

Da cintura para cima o esqueleto tem características de macaco. Isso indicaria uma vida arbórea. Ao esqueleto desta jovem fêmea falta a pélvis. Impressionante que tão-somente com um pé e uma rótula 'tão pequena quanto uma ervilha seca', os anatomistas puderam afirmar 'cientificamente' que o 'bebê de Lucy' andava ereto. Com o que foi achado no sítio, aparentemente ela foi soterrada junto com outros animais numa enchente:

"Este cenário deposicional, combinado com uma preservação impressionante de muitos restos de fauna articulados com falta de evidência de exposição às intempéries antes de ser enterrada, mais provavelmente indica que a jovem hominídea foi enterrada com um corpo intacto pouco após a sua morte durante um grande evento de inundação".

NOTA:
[1] Alemseged et al., “A juvenile early hominin skeleton from Dikika, Ethiopia,” Nature 443, 296-301(21 September 2006) | doi:10.1038/nature05047; Received 22 April 2006; Accepted 6 July 2006.

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Até parece que estou ouvindo alguém murmurar – menos, menos imaginação e mais ciência. O que todos esses ossos parecem indicar é simplesmente temos nada mais do que um fóssil de macaco extinto. Repare que as características do esqueleto estão faltando para se provar o contrário. Notícias assim devem ser lidas sempre cum granum salis.

A evidência para 'a habilidade para pular de galho em galho no alto das árvores' baseada nos dedos e nas omoplatas cria um problema para 'o bebê de Lucy':

“Os pés e outra evidência dos membros inferiores fornecem clara evidência para a locomoção bipedal [sic], mas a escápula parece de gorila, e as falanges manuais longas e curvas levantam novas questões sobre a importância do comportamento arborícola no repertório locomotor do A. afarensis”. Apesar disso, com todo esse oba oba evolutivo sendo feito, pode ter certeza que brevemente teremos novidades sobre esta 'criança'. Vai ser mais um elo perdido totalmente perdido.

A verdadeira história da evolução humana - a tese de relojoeiro cego - que eles vêem tentando 'montar' há quase 150 anos é esta:



Para que tudo isso tenha acontecido 'realmente' é preciso muita informação genética e 'pontualidade suiça' das mutações serem selecionadas para a onipotente, onipresente e onisciente seleção natural realizar o seu 'trabalho evolutivo'.

Isso sem levar em conta o 'dilema de Haldane' - são necessárias mais de 300.000 gerações para que algo 'selecionado' se instale numa espécie e provoque o 'fiat evolutivo'...
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Fóssil de ouro
Divulgação científica

21/09/2006

Agência FAPESP - Um pequeno canal de águas absolutamente mansas que descarregava seu fluxo em um lago na região de Dikika, na Etiópia. Não fosse a ausência de turbulência, naquele pequeno rio jamais teria sido encontrado o precioso esqueleto que é o assunto de capa da edição desta quinta-feira (21/9) da revista Nature.
O local, próximo de onde foi descoberta Lucy, um dos fósseis de hominídeos mais antigos encontrados até hoje – que pertence à espécie Australopithecus afarensis –, acaba de revelar outro esqueleto de grande importância para a paleontologia. O trabalho foi feito por Zeresenay Alemseged, do Instituto Max Planck, na Alemanha, e colaboradores.
Dessa vez, bastante bem preservado pelos sedimentos do pequeno rio, os pesquisadores identificaram o fóssil de uma criança que, quando morreu, não tinha mais que 3 anos de idade. Da mesma espécie de Lucy, a criança teria vivido 150 mil anos antes dessa, há 3,3 milhões de anos.
O esqueleto, que por se tratar de ossos de criança, provavelmente do sexo feminino, tem uma importância muito grande – nunca, antes, um material desse tipo e dessa idade havia sido descrito – traz outras boas surpresas. Uma delas é o formato dos ossos dos braços, bastante semelhantes aos do gorilas.
Isso significa que os membros da espécie A. afarensis, além de poder caminhar sobre os dois pés, como mostraram várias das características agora encontradas no jovem esqueleto, também tinham habilidade para pular de galho em galho no alto das árvores. Ou seja, a espécie se encaixa de forma quase perfeita na fase da taxonomia dos hominídeos, considerada como a de transição entre macacos e humanos.
Com mais essa contribuição para a ciência, a região na Etiópia se confirma como uma grande mina de ouro para quem investiga a evolução humana. Em outro artigo na mesma revista, Jonathan Wynn, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, descreve todas as características geológicas dessa importante área, que tem contribuído bastante para a história da evolução humana.
Mais informações, apenas para assinantes, em http://www.nature.com