Meninos de Darwin, cresçam e apareçam!

terça-feira, janeiro 09, 2007

Uma incursão pelo ciberespaço à procura da abordagem sobre as teorias da evolução de Darwin e seus mais rigorosos oponentes contemporâneos – os teóricos e defensores da teoria do design inteligente utilizando-se instrumentos de busca como o Google revela um universo surpreendente: desde os que conhecem a questão da controvérsia longeva (desde 1859) até a uma galera nomeada aqui neste blog como ‘os meninos de Darwin’.

Nunca perdi meu tempo com eles. São ignorantes da questão, mas bárbaros ideológicos. Nem vou mencioná-los para não lhes dar crédito, mas como visitam freqüentemente este espaço, eles sabem que esta catilinária é endereçada a eles. Sou obrigado a abordar uma questão que pensei já tinha sido há muito esclarecida neste blog sobre os significados dos termos ‘darwinismo’ e ‘darwinista’.

Há ‘darwinismo’ e ‘darwinismo’, assim como há ‘darwinistas’ e ‘darwinistas’. O objetivo deste blog é lidar com as nuances de significados que os termos têm. Vamos a esses significados. Remeto os leitores para o verbete “Darwinismo” da renomada The Encyclopedia of Philosophy que teve Paul Edwards como editor e Nicola Abbagnano, Jacob Bronowski, Mario Bunge, Rudolf Carnap, Antony Flew (hoje ex-ateu), Carl G. Hempel, Walter Kaufmann, Alexandre Koyré, Alasdair MacIntyre, Ernest Nagel, Wolfgang Stegmüller, e Helmut Thielick entre outros membros do conselho editorial.

“Darwinismo. O termo ‘Darwinismo’ tem tanto um significado estrito como amplo. No sentido estrito, ele se refere à teoria da evolução orgânica apresentada por Charles Darwin (1809-1882) e por outros cientistas que desenvolveram vários aspectos de seus pontos de vista; no sentido amplo, ele ser refere ao complexo pensamento científico, social, teológico, e filosófico que foi historicamente estimulado e apoiado pela teoria da evolução de Darwin”. [1]

Eu me inspiro em Beckner na abordagem que faço aqui distinguindo os ‘darwinismos’ e os ‘darwinistas’. ‘Darwinismo’ no seu sentido estrito como teoria científica, e ‘darwinismo’ no seu sentido amplo e complexo, pois as idéias têm conseqüências, mesmo as sabidamente estimuladas e apoiadas teoricamente.

Embora Beckner afirme que o darwinismo biológico – no seu primeiro significado – tenha sido uma realização magnífica do século XIX e, parafraseando o mantra de Dobzhansky de que a teoria da evolução seja a base de amplas regiões da teoria biológica, o que nós vemos hoje é uma série crise fundamental dentro das atuais teorias da origem e evolução da vida. É esse ‘darwinismo’ que aqui desafiamos cientificamente. Isso, ‘os meninos de Darwin’ não têm capacidade de civil e intelectualmente abordar a questão. Isso, eles não publicam a respeito do Enézio. Dispenso esse espaço chafurdento. Parece que alguém já falou algo sobre não se lançar pérolas aos porcos...

“O darwinismo no segundo sentido foi o principal problema filosófico da última parte do século dezenove. Hoje, o darwinismo não fornece mais o foco de investigação filosófica, em grande parte porque muito do darwinismo forma um background inquestionável para o pensamento contemporâneo”. [2]
Mesmo reconhecendo que o darwinismo foi ‘o principal problema filosófico’ da última parte do século 19, como todo bom ‘darwinista’ no segundo sentido que se preze, Beckner é ‘triunfalista’ e ‘reducionista’: o ‘darwinismo’ no primeiro sentido não fornece mais o foco de investigação filosófica porque fornece a uma base inquestionável para o pensamento contemporâneo.

Hoje, mais do que nunca, o ‘darwinismo’ vem sendo questionado nos seus dois significados. Dá para entender por que a ‘galera de Darwin’ está esperneando no mundo inteiro – a Weltanschauung filosófico-naturalista está indo para as cucuias, para dar lugar a uma nova cosmovisão. Feliz extinção! Prometo que serei forte e não derramarei uma só lágrima por vocês. Minto, vou derramar lágrimas de crocodilo.

A hagiografia, oops, a historiografia darwinista tenta ‘livrar a cara’ de Darwin que as suas idéias não são responsáveis pelo darwinismo social e outras ideologias. Ou é sincero desconhecimento da questão, ou é o ‘uma forma stalinista’ de reescrever a história da ciência. Darwin foi um darwinista social. [3]

Não vou entrar no mérito de o ateísmo ser derivado do ‘darwinismo’ no primeiro sentido, pois há muita literatura a respeito dessa questão polêmica, mas as especulações transformistas de Darwin no Origem das Espécies são nada mais nada menos do que ‘um longo argumento’ teológico negativo.

Os meninos de Darwin se encontram neste segundo significado – meros inocentes úteis que ainda não se esforçaram a considerar cum granum salis a diferença do darwinismo nas suas nuances de significados.

Dawkins, o evangelista do neo-ateísmo assim se expressou (Darwinismo no segundo sentido):

“Penso igualmente que, antes de Darwin, o ateísmo até poderia ser logicamente sustentável, mas que só depois de Darwin é possível ser um ateu intelectualmente satisfeito”. [4]

Meninos de Darwin, cresçam e apareçam!

NOTAS:

[1] Darwinism. The term “Darwinism” has both a narrow and a broad meaning. In the narrow sense, it refers to a theory of organic evolution presented by Charles Darwin (1809-1882) and by other scientists who developed various aspects of his views; in the broad sense, it refers to a complex of scientific, social, theological, and philosophical thought that was historically stimulated and supported by Darwin’s theory of evolution. BECKNER, Morton O. “DARWINISM”, in P. Edwards, editor, The Encyclopedia of Philosophy, Vol. 2, p. 296, Nova York, Collier Macmillan, 1967.

[2] “Darwinism in the second sense was the major philosophical problem of the later nineteenth century. Today, Darwinism no longer provides the focus of philosophical investigation, largely because so much of it forms an unquestioned background to contemporary thought”. Ibid, p. 296.

[3] WEIKART, Richard. “A Recently Discovered Darwin Letter on Social Darwinism”, Isis, 1995, 86:609-11.

[4] DAWKINS, Richard. “O relojoeiro cego”. São Paulo, Companhia das Letras, 2003, pp. 24-5.