Razões por que a Akademia deve considerar as teses do DI

domingo, junho 24, 2007

Por força de uma dissertação eu estou freqüentando com mais assiduidade as bibliotecas. Nada mal para quem é um rato de biblioteca há muito tempo. Lá eu dialogo com as idéias de grandes pensadores. Sem medo de ser feliz, e sem medo de uma inquisição acadêmica sem fogueiras só por esposar pensamentos divergentes do paradigma dominante.

Outro dia encontrei esta pérola de John Stuart Mill (1806-1873), um pensador inglês que escreveu sobre economia, e teve grande influência sobre a economia, política e pensamento modernos. No seu livro On Liberty [Sobre a liberdade], Mill argumentou que as pessoas deveriam ser livres para fazer o que elas quisessem desde não prejudicassem as demais.

Li este parágrafo, e não sei por que me lembrei do famigerado e odiento modus operandi da Nomenklatura científica em relação às teorias, hipóteses, e idéias revolucionárias questionando o status de suficiência epistêmica das atuais teorias adotadas pelo paradigma. Especialmente o tratamento stalinista/maoísta dado aos teóricos e proponentes da teoria do Design Inteligente no mundo inteiro. A Grande Mídia internacional e tupiniquim é, em grande parte, responsável por isso por não dar espaço aos “diferentes”, e por demonizá-los.

Nas universidades tupiniquins não temos a livre discussão do universo de idéias, mas tão-somente a “síndrome dos soldadinhos-de-chumbo” — todo o mundo pensando a mesma coisa, e ninguém pensando nada. Aí dos que ousarem pensar diferente da Akademia. Aí dos que ousarem “desnudar” seus ídolos de pés de barro. É preciso derrubar esta diktadura intelectual que impôs a todos uma camisa-de-força epistemológica na prática da ciência normal. E ainda têm a cara de pau de dizer que existe “liberdade acadêmica” e o livre debate de idéias. Nada mais falso.

Eis a pérola de Mill. Um antídoto para esta situação akadêmica peçonhenta:

“Aquele que sabe somente o seu lado do caso, sabe pouco disso. Suas razões podem ser boas, e ninguém pode ter sido capaz de refutá-las. Mas se ele for igualmente incapaz de refutar as razões do lado oposto; se ele não fizer o tanto para saber o que elas são, ele não tem base para preferir nenhuma opinião. A posição racional para ele seria a suspensão de juízo, e a menos que ele se contente com isso, ele é guiado ou pela autoridade, ou adota, como a generalidade do mundo, o lado em que ele sente mais inclinação. Nem é suficiente que ele deva ouvir os argumentos dos adversários de seus mestres, apresentados como eles os anunciam, e acompanhado pelo que eles oferecem como refutações. Este não é o meio de fazer justiça aos argumentos, ou trazê-los em contato real com sua mente. Ele deve ser capaz de ouvi-los de pessoas que verdadeiramente acreditam neles; que os defendem com seriedade, e fazem o melhor de si por eles. Ele deve conhecê-los na sua forma mais plausível e persuasiva; ele deve sentir a força total da dificuldade que a visão verdadeira do assunto tem de encontrar e desfazer-se, ou ele nunca irá possuir a porção da verdade que dá conta e remove aquela dificuldade. ... Tão essencial é esta disciplina para um entendimento real dos assuntos de moral e humanos, que se os oponentes de todas as verdade importantes não existirem, é indispensável imaginá-los e fornecê-los com os argumentos mais vigorosos que o advogado do Diabo mais habilidoso possa invocar.” [1]

Obrigado, Mill. Quem sabem um dia eles vão “evoluir” no mundo das idéias. E nós vamos resgatar o naturalismo metodológico seqüestrado há muito tempo pelo naturalismo filosófico que posa como ciência...

NOTA

1. “He who knows only his own side of the case, knows little of that. His reasons may be good, and no one may have been able to refute them. But if he is equally unable to refute the reasons on the opposite side; if he does not so much as know what they are, he has no ground for preferring either opinion. The rational position for him would be suspension of judgment, and unless he contents himself with that, he is either led by authority, or adopts, like the generality of the world, the side to which he feels most inclination. Nor is it enough that he should hear the arguments of adversaries from his own teachers, presented as they state them, and accompanied by what they offer as refutations. This is not the way to do justice to the arguments, or bring them into real contact with his own mind. He must be able to hear them from persons who actually believe them; who defend them in earnest, and do their very utmost for them. He must know them in their most plausible and persuasive form; he must feel the whole force of the difficulty which the true view of the subject has to encounter and dispose of, else he will never really possess himself of the portion of truth which meets and removes that difficulty. ... So essential is this discipline to a real understanding of moral and human subjects, that if opponents of all important truths do not exist, it is indispensable to imagine them and supply them with the strongest arguments which the most skilful devil's advocate can conjure up.” John Stuart Mill, On Liberty, Chapter 2, "Of Thought and Discussion", Norton Critical Edition, p. 36.