A desonestidade intelectual e jornalística de Marcelo Leite

quarta-feira, dezembro 03, 2008

No seu artigo “Criacionismo no Mackenzie”, Marcelo Leite, jornalista científico da Folha de São Paulo, desfilou desonestidade intelectual e jornalística nas entrelinhas que precisam ser denunciadas. Leite usou de um velho argumento dos darwinistas fundamentalistas: comparou a teoria do Design Inteligente como “criacionismo” para desqualificá-la como teoria científica. Além disso, afirmou que “inúmeras observações comprovam postulados centrais do darwinismo”.

O jornalista científico da Folha de São Paulo, o maior jornal do Brasil, está em flagrante descompasso com a verdade dos fatos, e vamos demonstrar neste blog apenas algumas das inúmeras observações que não corroboram os postulados fundamentais do darwinismo, com o testemunho de eminentes evolucionistas citados por ele no seu artigo-folhetim incendiário:

“Nós concluímos — inesperadamente — que há pouca evidência a favor do ponto de vista neodarwinista: as suas fundações teóricas e a evidência experimental apoiando-o são fracas, e não há dúvida de que as mutações de grande efeito são, algumas vezes, importantes na adaptação.” [1]

“Há muito tempo os paleontólogos estavam cientes de uma aparente contradição entre o postulado de gradualismo de Darwin [...] e as verdadeiras descobertas da paleontologia. Seguindo as linhas filéticas ao longo do tempo parecia revelar somente mudanças graduais mínimas, mas nenhuma evidência nítida de qualquer mudança de uma espécie em um gênero diferente ou para uma origem gradual de uma novidade evolucionária. Qualquer coisa verdadeiramente novo sempre parece surgir bem abruptamente no registro fóssil.” [2]

“O registro fóssil com as suas transições abruptas não oferecem apoio para a mudança gradual. Todos os paleontólogos sabem que o registro fóssil contém muito pouco em direção das formas intermediárias; as transições entre os principais grupos são caracteristicamente abruptos.” [3]

“Darwin introduziu a historicidade na ciência. A biologia evolutiva, em contraste com a física e a química, é uma ciência histórica — o evolucionista tenta explicar os eventos e processos que já aconteceram. Leis e experimentos são técnicas inadequadas para a explicação de tais eventos e processos. Em vez disso, o evolucionista constrói uma narrativa histórica, consistindo de uma reconstrução tentativa do cenário particular que resultou nos eventos que o evolucionista está tentando explicar.” [4]

“A extrema raridade de formas transicionais no registro fóssil persiste como o negócio secreto da paleontologia. As árvores evolutivas que adornam nossos livros-texto têm dados somente nas pontas e nódulos dos seus galhos; o resto é inferência, embora razoável, não é a evidência dos fósseis. Mesmo assim, Darwin estava tão apegado ao gradualismo que ele apostou toda a sua teoria numa negação deste registro literal: ‘O registro fóssil é extremamente imperfeito e este fato irá explicar em grande parte por que nós não encontramos variedades intermináveis, conectando todas as formas de vida extintas e existentes pelas as mais excelentes etapas graduadas. Quem rejeita estes pontos de vista da natureza do registro fóssil, rejeitará corretamente toda a minha teoria.’” [5]

“No nível mais alto de transição evolucionária entre os designs morfológicos básicos, o gradualismo tem sempre estado em dificuldade, embora permaneça como a posição “oficial” da maioria dos evolucionistas do Ocidente. Formas intermediárias nítidas entre os Bauplane são quase que impossíveis de serem construídos, mesmo em experimentos mentais; certamente que não existe evidência para essas formas no registro fóssil (mosaicos curiosos como o Archaeopteryx não contam). Até um gradualista convencido como G. G. Simpson (1944) invocou a evolução quântica e as fases de inadaptação para explicar essas transições.” [6]

Eu não vou discutir aqui o direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, enquanto instituição confessional, de ensinar o criacionismo como um contraditório à teoria geral da evolução de Darwin. Ela tem este direito como mantenedora de propagar a sua fé.

Por incrível que pareça, eu me lembrei que em 1859 Darwin tinha uma política educacional idêntica à esposada pelo Mackenzie em 2008:

“Estou bem a par do fato de existirem neste volume [Origem das Espécies] pouquíssimas afirmativas acerca das quais não se possam invocar diversos fatos passíveis de levar a conclusões diametralmente opostas àquelas às quais cheguei. Uma conclusão satisfatória só poderá ser alcançada através do exame e confronto dos fatos e argumentos em prol deste ou daquele ponto de vista, e tal coisa seria impossível de se fazer na presente obra.” [7]



Esta liberalidade epistemológica não é defendida por Marcelo Leite. O jornalista científico secularista, pós-moderno, chique e perfumado, defende o ensino unilateral e acrítica das teses de Darwin. Quer mais atraso medieval do que isso? E eles arrotam serem os luminares e defensores do livre pensamento e da ciência, mas na prática são ditadores orwellianos: Darwin locuta, evolutio finita!

Lendo os comentários de Marcelo Leite no seu blog “Ciência em dia”, não sei por que me lembrei, mas a postura da Nomenklatura científica e da galera dos meninos e meninas de Darwin nesta ardorosa e belicosa defesa de Darwin está se revelando uma forma religiosa extremamente perniciosa:

“A ciência ultimamente lembra mais a religião do que qualquer outra coisa. Como conseqüência, ela sofre dos mesmo problemas que historicamente afetaram a religião: triunfalismo, arrogância e falta de autocrítica”. [8]

Fui, indignado com tanto descompasso com a verdade e objetividade jornalística, e sem medo algum de desnudar a Darwin e viver na comunidade científica como Saviano...

NOTAS:

1. H. A. Orr e Jerry Coyne. “The Genetics of Adaptation: A Reassessment,” The American Naturalist, Vol. 140, No. 5, November 1992, p.726. “We conclude-unexpectedly-that there is little evidence for the neo-Darwinian view: its theoretical foundations and the experimental evidence supporting it are weak, and there is no doubt that mutations of large effect are sometimes important in adaptation.”

2. Ernst Mayr. One Long Argument: Charles Darwin and the Genesis of Modern Evolutionary Thought, Harvard University Press, Cambridge, p. 138. “Paleontologists had long been aware of a seeming contradiction between Darwin's postulate of gradualism ... and the actual findings of paleontology. Following phyletic lines through time seemed to reveal only minimal gradual changes but no clear evidence for any change of a species into a different genus or for the gradual origin of an evolutionary novelty. Anything truly novel always seemed to appear quite abruptly in the fossil record.”

3. Stephen Jay Gould, Natural History, 86, June-July, 1977, pp. 22, 24. “The fossil record with its abrupt transitions offers no support for gradual change. All paleontologists know that the fossil record contains precious little in the way of intermediate forms; transitions between major groups are characteristically abrupt.”

4. Ernst Mayr, “Darwin’s Influence on Modern Thought,” Scientific American, July 2000, p. 80. “Darwin introduced historicity into science. Evolutionary biology, in contrast with physics and chemistry, is a historical science -- the evolutionist attempts to explain events and processes that have already taken place. Laws and experiments are inappropriate techniques for the explication of such events and processes. Instead one constructs a historical narrative, consisting of a tentative reconstruction of the particular scenario that led to the events one is trying to explain.”

5. Stephen Jay Gould, “Evolution's Erratic Pace,” Natural History, The American Museum of Natural History, Vol. 86, No. 5, May 1977, p.12-16, p.12, citando a Darwin) “The extreme rarity of transitional forms in the fossil record persists as the trade secret of paleontology. The evolutionary trees that adorn our textbooks have data only at the tips and nodes of their branches; the rest is inference, however reasonable, not the evidence of fossils. Yet Darwin was so wedded to gradualism that he wagered his entire theory on a denial of this literal record: ‘The geological record is extremely imperfect and this fact will to a large extent explain why we do not find interminable varieties, connecting together all the extinct and existing forms of life by the finest graduated steps. He who rejects these views on the nature of the geological record, will rightly reject my whole theory.’”

6. Stephen Jay Gould e Niles Eldredge. “Punctuated equilibria: the tempo and mode of evolution reconsidered,” Paleobiology, Vol. 3, 1977, pp.115-147, p.147. “At the higher level of evolutionary transition between basic morphological designs, gradualism has always been in trouble, though it remains the "official" position of most Western evolutionists. Smooth intermediates between Bauplane are almost impossible to construct, even in thought experiments; there is certainly no evidence for them in the fossil record (curious mosaics like Archaeopteryx do not count). Even so convinced a gradualist as G. G. Simpson (1944) invoked quantum evolution and inadaptive phases to explain these transitions.”

7. Charles Darwin, Origem das espécies. Trad. Eugênio Amado. Belo Horizonte, Villa Rica, 1994, p.36.

8. William Hurlbut, in Entrevista da 2ª., Folha de São Paulo, A12, segunda-feira 23 de janeiro de 2006. Citado na revista VEJA 1941, ano 39, no. 4, p. 42, sem mencionar a fonte.