Garimpeiro acha dente de elefante no sul da Amazônia

terça-feira, julho 20, 2010

JC e-mail 4056, de 20 de Julho de 2010.

25. Garimpeiro acha dente de elefante no sul da Amazônia

Fóssil desenterrado em Porto Velho revela que espécie similar à asiática habitou floresta até 45 mil anos atrás

Um único dente achado por garimpeiros em Rondônia indica que a maior floresta tropical do mundo também já foi o lar do maior mamífero terrestre do planeta. A Amazônia de 45 mil anos atrás tinha elefantes, sugere uma nova pesquisa.

Mario Cozzuol, paleontólogo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), mostra as estruturas em forma de lâmina no fragmento de molar, que mede 12 cm. São reforços que ajudavam a estrutura dentária a triturar alimentos muito abrasivos.

"Só elefantes e capivaras têm dentes com essa estrutura laminar, mas os de capivara não passam de 5 cm. Se por acaso existiu uma capivara do tamanho sugerido por esse dente, o fóssil é mais notícia ainda", brinca ele.

Cozzuol e sua ex-aluna Ednair Rodrigues do Nascimento, da Unir (Universidade Federal de Rondônia), apresentarão o achado no 7º Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, que acontece nesta semana no Rio. Se estiverem corretos, cai por terra a ideia de que havia uma espécie de barreira impedindo a entrada de elefantes na América do Sul durante a Era do Gelo.

Até hoje, o Brasil só parecia ter abrigado mastodontes, feras de tromba extintas que, embora se pareçam com elefantes, são parentes distantes desses últimos. "Sabia-se que elefantídeos haviam chegado à Costa Rica, mas não mais ao sul", diz Cozzuol.

A coisa ainda estaria nesse pé se não fosse por Chico da Pampa, garimpeiro que, no começo dos anos 1990, doou o fóssil que achou em Porto Velho a Miguel Sant'Anna, do Laboratório de Paleontologia da Unir.

Anos depois, Nascimento estava catalogando fósseis no laboratório quando percebeu as estruturas laminares no dente. "Logo pensei em elefantes", diz.

A análise confirmou a impressão, mas ainda não é possível saber a qual espécie exata pertence o dente. Uma possibilidade é que se trate de um Mammuthus columbi. Seria um mamute, portanto?

"Prefiro não usar a palavra "mamute", porque as pessoas vão pensar num bicho peludo, e não era o caso", diz Cozzuol. "O certo seria classificá-los como Elephas [gênero do elefante-asiático]."

Para os cientistas, o achado é só uma amostra da diversidade oculta de bichos da Amazônia pré-histórica. Essa fauna é desconhecida, em parte, por falta de pesquisas. Por outro lado, as próprias condições de obtenção dos fósseis não são fáceis.

"Quase todo o material está tão fundo que só aparece quando se escava para o garimpo de ouro", explica Cozzuol. O próprio dente de elefante é prova disso: no arenito que ainda recobre parte do fóssil, o paleontólogo aponta pequenos pontos brilhantes: são grãos do metal precioso.

(Reinaldo José Lopes)
(Folha de SP, 20/7)



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