Envelhecimento lento não é privilégio de humanos

sexta-feira, março 11, 2011

11/3/2011

Agência FAPESP – Por muito tempo se pensou que o homem, com sua relativamente longa expectativa de vida e acesso a vantagens como avanços na medicina, envelhecesse mais lentamente do que os outros animais.

Estudos comparativos com camundongos, ratos e outras criaturas confirmaram a ideia. Há exceções, como as longevas tartarugas, mas o homem se destacava como o mais durador dos primatas.

Mas uma nova pesquisa indica que o ritmo de envelhecimento humano não é único. A pesquisa comparou os padrões de envelhecimento do homem com os de outros primatas, como chimpanzés e gorilas. Os resultados foram publicados na edição desta sexta-feira (11/3) da revista Science.



Estudo com mais de 3 mil chimpanzés, gorilas e macacos indica que, diferentemente do que se imaginava, o envelhecimento humano não é único entre os primatas (divulgação)

“Humanos vivem por muitos anos além de seu auge reprodutivo. Se fôssemos como os outros mamíferos, começaríamos a morrer rapidamente assim que atingíssemos a meia-idade, mas isso não ocorre”, disse Anne Bronikowski, da Universidade do Estado do Iowa, um dos autores do estudo.

“Há esse argumento antigo na literatura científica de que o envelhecimento humano seria único, mas não tínhamos dados de primatas selvagens, além de chimpanzés, até recentemente”, disse Susan Alberts, da Universidade Duke, outra autora do trabalho.

Os pesquisadores combinaram dados de estudos de longo prazo de sete espécies de primatas selvagens: o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), encontrado no Brasil; o macaco-prego-de-cara-branca (Cebus capucinus), da Costa Rica; o cinocéfalo (Papio cynocephalus), um tipo de babuíno, e o macaco-azul (Cercopithecus mitis), ambos do Quênia; chimpanzés (Pan troglodytes) da Tanzânia; gorilas (Gorilla beringei) da Ruanda; e o lêmur sifaka (Propithecus verreauxi), de Madagascar.

A pesquisa se centrou não no declínio inevitável na saúde e na fertilidade que chega com a idade avançada, mas no risco de morte. Quando as taxas de envelhecimento dos humanos – aumento no risco de mortalidade com a idade – foram comparadas com dados de quase 3 mil outros primatas, elas se mostraram absolutamente dentro do espectro dos primatas.

“Os padrões humanos não são notadamente diferentes, mesmo levando em conta que os primatas selvagens experimentam fontes de mortalidade das quais o homem pode estar protegido”, destacaram os autores.

Os resultados também confirmaram um padrão observado em humanos e no reino animal: na média, as fêmeas vivem mais do que os machos. Dos primatas analisados, excluindo o homem, a diferença de mortalidade entre machos e fêmeas se mostrou menor no muriqui-do-norte. Na espécie, tanto o nível de agressão às fêmeas como a competição entre os machos na hora de procriar foram os menores observados.

O artigo Aging in the natural world: comparative data reveal similar mortality patterns across primates(doi:10.1126/science.1201571), de Anne M. Bronikowski e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

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Science 11 March 2011: 
Vol. 331 no. 6022 pp. 1325-1328 
DOI: 10.1126/science.1201571
REPORT

Aging in the Natural World: Comparative Data Reveal Similar Mortality Patterns Across Primates

Anne M. Bronikowski1, Jeanne Altmann2,3, Diane K. Brockman4, Marina Cords5, 
Linda M. Fedigan6, Anne Pusey7, Tara Stoinski8, William F. Morris9, Karen B. Strier10, and Susan C. Alberts3,9,*

+Author Affiliations

1Department of Ecology, Evolution and Organismal Biology, Iowa State University, Ames, IA 50011, USA.
2Department of Ecology and Evolutionary Biology, Princeton University, Princeton, NJ 88001, USA.
3Institute of Primate Research, National Museums of Kenya, Nairobi, Kenya.
4Department of Anthropology, University of North Carolina, Charlotte, NC 28223, USA.
5Department of Ecology, Evolution and Environmental Biology, Columbia University, New York, NY 10027, USA.
6Department of Anthropology, University of Calgary, Calgary, T2N 1N4 Canada.
7Department of Evolutionary Anthropology, Duke University, Durham, NC 27708, USA.
8The Dian Fossey Gorilla Fund International and Zoo Atlanta, Atlanta, GA 30315, USA.
9Department of Biology, Duke University, Durham, NC 27708, USA.
10Department of Anthropology, University of Wisconsin-Madison, Madison, WI 53706, USA.
*To whom correspondence should be addressed. E-mail: alberts@duke.edu

ABSTRACT

Human senescence patterns—late onset of mortality increase, slow mortality acceleration, and exceptional longevity—are often described as unique in the animal world. Using an individual-based data set from longitudinal studies of wild populations of seven primate species, we show that contrary to assumptions of human uniqueness, human senescence falls within the primate continuum of aging; the tendency for males to have shorter life spans and higher age-specific mortality than females throughout much of adulthood is a common feature in many, but not all, primates; and the aging profiles of primate species do not reflect phylogenetic position. These findings suggest that mortality patterns in primates are shaped by local selective forces rather than phylogenetic history.

Received for publication 13 December 2010.
Accepted for publication 1 February 2011.

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