Ildeu Moreira apresentou estudo sobre a obra de Alfred Rusell Wallace em conferência da 65a. Reunião Anual da SBPC

sábado, julho 27, 2013

JC e-mail 4776, de 25 de Julho de 2013.


Ildeu Moreira se apresentou em conferência na 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Um estudo apresentado na 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) mostrou que a descoberta da origem das espécies e a teoria da evolução não são obras unicamente de Darwin, como muitos pensam, mas há outro nome não tão famoso, mas com legado tão rico quanto o do naturalista britânico. Trata-se de Alfred Russel Wallace.

[Muitos pensam assim porque a Nomenklatura científica adotou uma camisa de força no ensino unilateral da evolução como sendo Darwin o homem que teve a maior ideia que toda a humanidade já teve. Nada mais falso. Nem Darwin nem Wallace são precursores do pensamento evolutivo sobre a origem e evolução das espécies : alguns filósofos gregos pagãos já pensavam assim]

A pesquisa foi realizada pelo doutor em Física e professor do Programa de Pós-Graduação em História da Ciência e das Técnicas em Epistemologia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ildeu Moreira.

Os resultados foram apresentados durante a conferência 'Alfred Wallace: o parceiro de Darwin', no Auditório do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que reuniu amantes da história para uma exposição de ideias abordando a vida desse biólogo que para muitos é desconhecido.

História

Nascido em uma família pobre, de nove irmãos, em 8 de janeiro de 1823, Alfred Wallace foi aprendiz de carpinteiro e aos 14 anos visitou uma casa da ciência inglesa. A partir daí, passou a se dedicar aos estudos científicos e, em paralelo, também dedicou sua vida aos avanços políticos da Inglaterra, por ser crítico do imperialismo inglês.

Darwin nasceu na aristocracia e estudou em Cambridge, já Alfred não chegou nem a ter formação de nível médio, porém, era um biólogo autodidata e hoje é considerado o pai da biogeografia. Ambos vieram ao Brasil para pesquisas e construíram suas teorias independentemente.

[Vide As contribuições de Alfred Rusell Wallace para a biogeografia, de Viviane Arruda do Carmo, Lilian Al-Chueyr Pereira Martins e Nélio Vincenzo Bizzo] 

Wallace viveu por quatro anos na Amazônia fazendo excursões naturalistas para conhecer e buscar resultados definitivos. Ele queria entender o fenômeno da origem das espécies. O plano era fazer uma coleção de objetos duplicados, um ia para o seu laboratório na Grã-Bretanha e outro pertencia a sua coleção particular.

Em sua excursão, chegou a ficar 14 meses em Belém e mais oito meses somente explorando o Rio Negro, para depois ir a outras localidades, mas todos os rascunhos, mapas, catalogações e desenhos foram perdidos, pois o navio no qual Alfred voltava para Inglaterra afundou uma semana depois da partida, por isso alguns dos seus livros foram escritos somente com as lembranças do que havia vivido, ao contrário das anotações de Darwin, em Galápagos, que o ajudaram a construir um livro mais denso.

Alfred explorou a fronteira geográfica e a distribuição de animais, entre as plantas, a palmeira era sua preferida. Foi ele quem descobriu a primeira palmeira piaçava. No Amazonas, chegou a recolher 14 mil espécies entre plantas e insetos. Ele também foi um dos precursores no estudo de insetos como alimentos.

Após chegar à Inglaterra fez mais uma viagem como naturalista, desta vez para a Indonésia, onde ficou por nove anos. Lá, descobriu aproximadamente 123 mil espécies de animais diferentes, um deles o macaco orangotango.

Muito ousado, colocou suas ideias no papel e escreveu uma carta acumulando fatos estudados e mandou para Darwin mostrando suas conclusões.

Até então, não havia nada publicado oficialmente, foi quando Darwin pegou parte da carta recebida, os textos manuscritos de 1842 o qual já estava esboçando e, junto com alguns amigos, fez uma apresentação conjunta na Sociedade Lineana de uma síntese da origem das espécies, que foi lançada em 1859.

[Darwin era extremamente cuidadoso com a sua correspondência. Estranho que a correspondência mantida com Wallace neste período sumiu. Muito mais estranho a ação de Charles Lyell e Joseph Hooker na apresentação conjunta dos trabalhos dos dois naturalistas. Tudo isso para manter a originalidade da ideia a favor de Darwin. Essa lacuna na correspondência pesa sobre Darwin como plagiador das ideias de Wallace: The Darwin Conspiracy, de Roy Davies.

Ao saber [Ildeu passou a ideia de que Wallace sabia da iniciativa de Lyell e Hooker, mas ele estava na Malásia e só ficou sabendo disso quase um ano depois!!!], Alfred ficou satisfeito por ter assinado a publicação com Darwin e, posteriormente, escreveu um livro no qual publicou a teoria novamente, mas dessa vez a batizando com o nome de 'darwinismo'. Os dois permaneceram amigos a vida toda e divergiram apenas intelectualmente já que Alfred acreditava que a teoria da seleção natural não era suficiente para explicar a cultura humana.

[Cultura humana ou evolução da mente humana???]

Sua autobiografia, escrita em 1905, não possui publicação em português, mas o livro 'A viagem ao Rio Negro' pode ser encontrado disponível na internet.

Questionado sobre o que o motivou a pesquisar sobre a vida de Alfred Wallace, o professor Ildeu Moreira disse acreditar que a ideia veio de sua curiosidade pessoal sobre a história do biólogo. "Sempre gostei de livros de história e, após ler o livro dele sobre a viagem ao Rio Negro, há uns 30 anos, eu fiquei fascinado pela descrição dele. Outro motivo é por ele ser um personagem muito importante e interessante da história da ciência. Isso mostra que as classes sociais perpassam a ciência - o idealismo do Wallace do ponto de vista político, o sonho da ciência, da igualdade, da cooperação - nós não podemos perder" disse.

(Laize Minelli, Agência CT&I Amazonas)


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Leitura recomendada por este blogger: Alfred Rusell Wallace: a rediscovered life, de Michael Flannery.